Procurando Paulo

Procurando Paulo

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1- Paulo, o Apóstolo das nações

Paulo de Tarso foi e ainda é hoje um dos maiores personagens da história do Cristianismo. É por isso que temos interesse em conhecer este pilar da nossa Igreja.

Existem várias maneiras de abordar seu trabalho.

Podemos estudar

- personalidade dela,
- sua teologia,
- suas viagens missionárias,
- seus muitos conflitos,
- suas cartas às comunidades,
- seu relacionamento com seus amigos e inimigos,
- sua influência ao longo dos tempos,
-etc etc.

Penso que a melhor forma de conhecer este pioneiro do cristianismo é “seguir os seus passos”, desde o nascimento até à morte. Ele teve uma vida excepcional, cheia de surpresas e reviravoltas. Ele viu cenários dignos dos maiores filmes de ação.

Esta abordagem demora mais tempo mas permite-nos descobrir melhor toda a riqueza e complexidade da personagem.

Muitos de nós temos um bom conhecimento dos quatro evangelhos: Marcos, Mateus, Lucas e João, mas Paulo, o autor das Epístolas, permanece um enigma e um ponto de interrogação.

Espero dar-lhe o gosto de ler Paulo de Tarso, rezar com ele e meditar sobre a sua vida e os seus escritos. Procurarei lançar alguma luz sobre este homem, através dos seus caminhos tortuosos, do seu desenvolvimento teológico, dos seus conflitos com a comunidade de Jerusalém, das suas viagens missionárias, do seu trabalho pastoral nas igrejas e das suas cartas apaixonadas.

Determinado, às vezes teimoso, às vezes melindroso, Paulo tinha muitos amigos e um grande número de inimigos. Ele desempenhou um papel de liderança nos primórdios do Cristianismo e sua influência continua até hoje.

Evitarei envolver-me nas inúmeras polémicas de especialistas sobre a vida de Paulo, sobre a autenticidade de algumas das suas cartas, sobre o que Lucas diz dele ou sobre o que achou por bem ignorar. Gostaria de apresentar-vos a “vida de São Paulo” com toda a riqueza que este apóstolo único nos oferece. Vê-lo-eis em ação nas grandes cidades do Império Romano, viajando do Oriente ao Ocidente, sempre desejosos de levar a Boa Nova mais longe, até aos confins do mundo conhecido.

Através desta “biografia” poderemos também levantar o véu sobre a vida quotidiana dos primeiros cristãos e sobre as numerosas comunidades fundadas por Paulo.

Espero dar-lhe o gosto de ler Paulo de Tarso, rezar com ele e meditar sobre a sua vida e os seus escritos.

Centenas de excelentes volumes foram publicados por especialistas que têm grande admiração por Paulo e um profundo conhecimento de seu trabalho missionário. Periodicamente, darei o nome de alguns desses autores, o título do livro, a edição e uma foto do volume mencionado.

Isto talvez o encoraje a obter um ou outro destes volumes, para melhor apreciar toda a riqueza de Paulo de Tarso.

- Destaca:
- A frágil saúde de Paulo!
- A feroz oposição de judeus, gentios e judaico-cristãos!
- Suas cartas foram escritas antes dos 4 evangelhos!
- Seus amigos que permaneceram leais a ele até o fim!
- Ele trabalhava com todos sem exceção, inclusive com mulheres, o que ia contra o espírito da época!
- Suas 3 viagens missionárias aconteceram entre 46 e 58 d.C.!
- Ele viveu na época dos imperadores Cláudio e Nero!
- A população do Império Romano incluía 50 milhões de pessoas!
- A diferença entre cidadãos romanos e não-cidadãos, homens livres e escravos!
- Um mundo de injustiça!
- Todas estas condições beneficiarão a expansão do Cristianismo! - Aprendemos que Roma tinha então cerca de 1.000.000 de habitantes, Éfeso 650.000, Antioquia da Síria 500.000, Tarso 300.000 e Jerusalém 25.000!
- No Império Romano, as pessoas falavam e pensavam grego!

2- Paulo, o apóstolo desconhecido

Para a maioria dos cristãos, Paulo é um completo estranho.

Não o conhecemos ou o conhecemos mal. É verdade que os seus escritos chegam frequentemente até nós através da segunda leitura da Eucaristia dominical, em partes separadas e sem ligação com a primeira leitura e com o Evangelho. Alguns padres evitam mesmo esta “segunda leitura”, sendo muito raro o celebrante fazer uma homilia sobre o texto de Paulo.

Embora seja pouco conhecido, Paulo continua sendo um dos personagens mais populares da história do Cristianismo. Centenas de igrejas, numerosas paróquias, milhares de volumes são-lhe dedicados e, na história da Arte, encontramos o seu retrato por todo o lado ao longo dos séculos. É-nos apresentado em pintura, escultura, mosaico, afresco, aquarela, ícone, marfim, vitral, iluminura, etc. Está presente em catacumbas, cavernas, palácios, casas, igrejas. Poucas grandes figuras foram retratadas com tanta frequência como Paulo.

Personagem raro intensidade, é desconcertante pelas suas contradições

Depois de dois mil anos, ainda se fala dele. A sua grandiosa obra missionária nunca deixa de nos surpreender e fascinar. Com tão poucos recursos, ele superou enormes obstáculos. Apesar da saúde debilitada, embarcou em viagens perigosas, por terra e por mar.

Durante sua carreira missionária, Paulo enfrentou forte oposição de judeus, gentios e judaico-cristãos. Foi vítima das mais odiosas calúnias e teve que defender continuamente o seu apostolado. Nós o atacamos em todas as frentes. Às vezes ele foi traído por seus próprios discípulos. Foi preso, espancado, açoitado, preso, apedrejado, expulso e finalmente decapitado. Nada lhe foi poupado até ao dia do seu martírio.

Durante os primeiros anos do cristianismo, Paulo foi o único a compreender que a mensagem de Cristo só tinha futuro se se dirigisse a todos e não apenas aos judeus. O Cristianismo tinha que ser universal ou não sobreviveria. Paulo compreendeu a missão universal de Cristo: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo…” (Mateus 28, 18)

Paulo impôs esta visão cristã muito antes de os quatro evangelhos serem escritos.

Este grande missionário foi ao longo de sua vida um personagem de rara intensidade. É desconcertante por suas contradições. Verdadeiro místico, é também um excelente organizador. De mau humor, está constantemente rodeado de muitos amigos. Acusado de ser intolerante, misógino, antijudaico, trabalhou com diversas mulheres, o que não era aceitável na cultura de sua época, e permaneceu verdadeiramente judeu até sua morte. Apesar de seu caráter impetuoso, suas comunidades permaneceram leais a ele até o fim.

Para saber sobre Paulo, temos diversas fontes.

- Primeiro há as suas cartas (13 ao todo – excluo aqui a carta aos Hebreus). Estas Cartas falam das suas viagens, das suas lutas constantes, da fundação de igrejas, dos seus muitos conflitos. São essenciais para compreender a personalidade de Paulo, a sua teologia e a sua mensagem. As Epístolas de Paulo levantam o véu sobre a vida quotidiana das primeiras comunidades cristãs.

- A seguir temos os Atos dos Apóstolos de  Lucas, o grande admirador e cronista de Paulo. Ele nos oferece um retrato que tem pouca equivalência na história da Antiguidade. Graças a Lucas, Paulo é mais conhecido do que a maioria das grandes figuras da Roma antiga.

- Portanto, dois retratos: o de Lucas e o do próprio Paulo. Há também alguns escritos um pouco posteriores: os Atos de Paulo, os Atos de Pedro, a Epístola dos Apóstolos, o Didakê que complementam esta informação.

- A história do Império Romano e as descobertas arqueológicas completam o retrato do homem de Tarso. Eles nos apresentam as instituições, a cultura, a economia e os meios de transporte do primeiro século. Enriquecem assim o nosso conhecimento do Apóstolo e das comunidades cristãs.

As três viagens missionárias de Paulo ocorreram entre os anos 46 e 58 EC.

No início destas viagens, Cláudio era imperador e no final, Nero governou o Império. Durante todos estes anos, o governo imperial esforçou-se por concentrar o poder e a riqueza na Capital. Esta política remontava ao século anterior, quando a República cedeu lugar ao Império de Júlio César. Os imperadores procuraram manter a “Paz Romana” (Pax romana), que promovia o comércio internacional e a cobrança de impostos.

É um mundo de distância multicultural do que Paulo envie as boas novas de Cristo

Na época de Paulo, a população do Império Romano rondava os 50 milhões de habitantes, com estatutos muito variados: havia cidadãos romanos e não-cidadãos, gente das cidades e do campo, homens livres e escravos, homens e mulheres , civis e soldados. Era um mundo de disparidades e injustiças. Tudo isto desempenhará um papel importante no sucesso do cristianismo emergente.

Roma tinha aproximadamente 1.000.000 de habitantes, Éfeso 650.000, Antioquia da Síria 500.000, Tarso 300.000 e Jerusalém 25.000.

No Império, havia uma cultura comum. O grego era falado e pensado em todos os lugares, mesmo entre os romanos que gostariam de impor o latim como língua universal, mas isso só aconteceria muito mais tarde.

Ao longo de suas viagens, Paulo aproveitou os numerosos assentamentos judaicos na Diáspora (a dispersão dos judeus por todo o império). Em quase todas as cidades existiam sinagogas, o que lhe permitia ter um primeiro contacto rápido por onde quer que fosse.
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O mundo de Paulo é o das grandes cidades, abertas, pluralistas e cosmopolitas. É a este mundo multicultural que Paulo dirige a Boa Nova de Cristo.

- Aprendemos que Paulo era um pouco mais novo que Jesus!

- Como ele era pequeno, magro, enérgico, careca e barbudo!

- Paulo significa pequeno!

- Ele tinha resistência infalível!

- Ele insiste em sua ótima educação!

- Ele estudou em Tarso e depois em Jerusalém!

- Culturalmente, ele era muito diferente dos outros apóstolos!

- Paulo falava quatro línguas: aramaico, hebraico, grego e provavelmente latim!

- Ele também sabia nadar!

- Viveu sob o reinado de 5 imperadores: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero!

- Ele foi capaz de se mover livremente graças à “pax romana” estabelecida sob o imperador Augusto!

- Conseguiu aproveitar as muitas estradas construídas pelos romanos e tirar partido da rede de navegação que cruzava o Mediterrâneo!

- Paulo também pôde se beneficiar da presença de numerosas colônias judaicas espalhadas por todo o território do império!

- Carlos Mesters divide a vida de Paulo em quatro períodos principais:

- Do nascimento aos 28 anos: o judeu praticante.

- Dos 28 aos 41 anos: o ardente convertido.

- Dos 41 aos 53 anos: o missionário itinerante.

- Dos 53 aos 62 anos: o preso e o organizador comunitário. Ele teria sido condenado à morte aos 62 anos.

3- Quem é Paulo de Tarso?

Paulo nasceu por volta do ano 8 DC. Ele seria, portanto, cerca de dez anos mais novo que Jesus de Nazaré. Sabemos pouco sobre seus pais e sua infância. Em suas cartas ele não diz nada sobre sua família. Lucas nos conta que Paulo tinha uma irmã casada, morando em Jerusalém, e um sobrinho que salvou sua vida (Atos 23, 16).

Durante toda a sua vida manteve a sua pertença ao povo judeu: “Circuncidado ao oitavo dia”, “da raça de Israel”, “da tribo de Benjamim”.

Fisicamente: pequeno, magro, enérgico, careca e barbudo

Saulo é o nome hebraico dado a ele na circuncisão. A este nome semita ele acrescentaria mais tarde o de Paulus. Não mudou de nome, mas tem um nome duplo: Saulo-Paulo que significa “pouco”, “pequeno”. Muito rapidamente, ele será conhecido por este único nome.

Os Atos de Paulo, pequeno livro escrito em meados do século II, nos dá o seguinte retrato do apóstolo das nações: “Viu-se Paulo aproximando-se, homem de pequena estatura, calvo, pernas arqueadas, vigoroso , sobrancelhas juntas, nariz ligeiramente aquilino. » Ao longo dos séculos, a tradição preservou esta imagem de Paulo: pequeno, magro, enérgico, careca e barbudo.

Paul pode não ter um corpo atlético, mas era movido por força e vigor excepcionais. Na 2ª carta aos Coríntios ele escreve:

“Muitas vezes estive perto da morte. Cinco vezes recebi trinta e nove chicotadas dos judeus; três vezes fui espancado com varas pelos romanos; uma vez apedrejado; três vezes naufraguei. Acontece que passei um dia e uma noite no mar! Viagens sem número, perigos dos rios, perigos dos bandidos, perigos dos meus conterrâneos, perigos dos pagãos, perigos da cidade, perigos do deserto, perigos do mar, perigos dos falsos irmãos! Trabalho e fadiga, vigílias frequentes, fome e sede, jejuns repetidos, frio e nudez!” (2 Coríntios 11:25-27)

Apesar de sua aparência frágil, tinha uma resistência infalível.

Paulo é um homem de grande educação. Fez os primeiros estudos em Tarso, sua cidade natal, e depois estudou em Jerusalém, com o mais famoso professor judeu de sua época: Gamaliel.

Aqueles que o conheceram rapidamente perceberam que ele era uma pessoa educada. Durante a sua prisão em Cesaréia, o promotor romano Pórcio Festo disse a Paulo: “Você está louco, Paulo; seu grande conhecimento faz você perder a cabeça.” (Atos 26, 24)

Culturalmente, Paulo é muito diferente dos apóstolos que eram considerados ignorantes pelas autoridades judaicas. Após a ressurreição, durante a sua prisão em Jerusalém, Pedro e João serão julgados pelos membros do Sinédrio como pessoas sem instrução: “Considerando a garantia de Pedro e João e percebendo que eram pessoas sem educação nem cultura, os membros do Sinédrio ficaram surpresos.” (Atos 4, 13)
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Paulo falava quatro línguas: aramaico, hebraico, grego e provavelmente latim. O aramaico era sua língua materna e o grego a de Tarso e do Império. Ele conhecia bem o hebraico, a língua das Sagradas Escrituras. Cidadão romano, falava sem dúvida a língua dos senhores do Império. Ele estudou filosofia e literatura gregas, destacou-se em geografia, navegação e esportes. Sua vasta cultura contrastava com a religião estreita de seus ancestrais.

Paulo não só sabia ler e escrever, mas também sabia nadar: “Três vezes naufraguei e aconteceu de passar um dia e uma noite no mar”. (2 Coríntios 11, 25) Isto era entre os gregos um sinal de educação. Quatro séculos antes de Jesus Cristo, Platão, que viveu de -428 a -348, escreveu: “O ignorante é um homem que não sabe ler nem nadar”.

A vida de Paulo ocorreu durante o reinado de cinco imperadores: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Três deles se tornaram verdadeiros monstros sedentos de sangue. Paulo nasceu em Tarso, no Oriente, morreu em Roma, no Ocidente.
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Paulo viveu numa época que favorecia as viagens. Ele pôde circular livremente graças à “pax romana” estabelecida sob o imperador Augusto. Percorrendo as inúmeras estradas construídas pelos romanos e aproveitando a rede de navegação que cruzava o Mediterrâneo, percorreu milhares de quilómetros. A organização do Império permitiu não só aos exércitos mas também à população em geral movimentar-se em segurança. Durante treze anos, viajou por mar e empreendeu longas viagens por colinas e montanhas, sob a neve no inverno e sob um calor de 40¤ no verão. Durante suas viagens, Paulo pôde se beneficiar da presença de numerosas colônias judaicas espalhadas por todo o território do império.

Paulo era um verdadeiro morador da cidade. Pouco conhecia do campo e da vida dos agricultores do seu tempo, mas entendia bem a vida urbana, a vida militar e os desportos. Em suas cartas ele utiliza imagens do exército, da política urbana e dos jogos olímpicos. Encontramos as seguintes expressões: continuar a corrida, ganhar o prêmio, obter a coroa de louros, lutar sem cair no vazio, correr na direção certa. Ele conhece as privações e a disciplina dos atletas.

Paulo era um personagem grandioso. Influenciado pelos valores do judaísmo, pela profundidade da filosofia grega, pelo rigor da cultura romana e pela riqueza da tradição cristã, tornou-se um dos pensadores mais originais da história do cristianismo.

- Carlos Mesters divide a vida de Paulo em quatro períodos principais:

- Do nascimento aos 28 anos: o judeu praticante.

- Dos 28 aos 41 anos: o ardente convertido.

- Dos 41 aos 53 anos: o missionário itinerante.

- Dos 53 aos 62 anos: o preso e o organizador comunitário. Ele teria sido condenado à morte aos 62 anos.

- Paulo é um cidadão romano!
- Ser cidadão romano era beneficiar de um estatuto muito especial que conferia o direito de participar na vida pública e sobretudo que conferia garantias judiciais e fiscais aos membros da minoria que tinham esse privilégio!
- Foi o maior título de nobreza do Império Romano e o único símbolo de “posição” social naquela época!
- Paulo beneficiará durante toda a sua vida desta dignidade que recebeu do seu pai!
- Havia então apenas quatro a cinco milhões de cidadãos romanos num império de cerca de 55 milhões de pessoas, menos de dez por cento da população total!
- A cidadania romana conferia três privilégios principais: o direito de voto, o direito à imunidade contra sanções desonrosas e o direito de ser julgado perante o mais alto tribunal do Império!
- A cidadania romana explica em grande parte a abertura de espírito de Paulo e o seu desejo de expor a estreiteza de espírito do Judaísmo do seu tempo! - - A cidadania romana foi um trunfo importante no seu esforço para romper a estreiteza de espírito do Judaísmo do seu tempo e alcançar um Cristianismo universal!

4- O cidadão romano

Paulo pertencia às três culturas mais importantes do seu tempo: cultura romana, cultura grega e cultura hebraica. A sua educação e as suas raízes deram-lhe uma amplitude de espírito e uma versatilidade excepcional.

Sua cultura latina

Este judeu de Tarso orgulhava-se de ser membro da cidadania romana. “Sou cidadão romano.” Ele usará este título a seu favor em muitas ocasiões. Ser cidadão romano era beneficiar de um estatuto muito especial que conferia o direito de participar na vida pública e, sobretudo, que conferia garantias judiciais e fiscais aos membros da minoria que gozavam desse privilégio. Foi o título de nobreza mais elevado do Império Romano e o único símbolo de posição social da época.

A cidadania romana conferiu três privilégios principais

Paulo beneficiará durante toda a sua vida desta dignidade que recebeu do seu pai. Havia então apenas quatro a cinco milhões de cidadãos romanos num império de cerca de 55 milhões de pessoas, menos de dez por cento da população total.

A cidadania romana conferia três privilégios principais: o direito de voto, o direito de imunidade contra punições desonrosas e o direito de ser julgado perante a mais alta corte do Império.

O aqueduto Pont du Gard: arquitetura romana monumental a serviço da saúde pública.

Estrada romana perto de Tarso em Türkiye, cidade natal de Paulo.

O Coliseu de Roma ainda continua sendo um dos principais monumentos da cidade.

Quanto ao direito de voto, não sabemos se Paulo o exerceu na sua cidade de Tarso. Podia participar na assembleia do povo onde se discutia e decidia tudo o que dizia respeito à vida e à organização da cidade. Apenas os cidadãos romanos tinham o direito de participar nas assembleias. Foram excluídas mulheres, escravos, libertos e estrangeiros. Os gregos chamavam este sistema de democracia, demos (povo) e kratia (governo). Na realidade, não era um “governo do povo”, mas sim o governo de uma estreita elite de cidadãos privilegiados.

O segundo benefício incluía imunidade contra punições desonrosas.

Na cidade de Filipos, Paulo obteve um pedido de desculpas dos juízes que o condenaram a ser espancado sem julgamento. Mais tarde, em Jerusalém, foi por invocar este privilégio que ele escapou por pouco de ser açoitado. Condenado à morte, não será crucificado, nem queimado nos jardins de Nero, nem atirado às feras na arena, como muitos cristãos. Ele será decapitado, uma morte mais honrosa para um cidadão romano.

O terceiro privilégio será útil a Paulo durante a primeira audiência perante o novo governador Festo, em Cesaréia Marítima. Desesperado, para escapar aos conspiradores que decidiram assassiná-lo, pediu para ser julgado perante o tribunal supremo do imperador, em Roma (Atos 25, 11), pedido que lhe foi atendido.

Este “apelo a César” pode ter sido um erro tático da parte de Paulo. Na verdade, como observou o Rei Agripa após a audiência: “Poderíamos ter libertado este homem se ele não tivesse apelado para César” (Atos 26, 32); mas Paulo conhecia seus companheiros judeus muito melhor do que o rei Agripa. Se ele tivesse retornado a Jerusalém, teria sido assassinado no caminho.

Roma era uma atração irresistível para Paulo de Tarso. Centro de todos os poderes, esta cidade parece ter desempenhado um papel determinante no seu programa missionário. O seu avanço progressivo, deliberado e ousado, do Oriente ao Ocidente, corresponde a um plano pré-estabelecido de conquista de Cristo, à capital do mundo. Roma tornou-se para ele o símbolo da universalidade do Cristianismo.

A cidadania romana explica em grande parte A mente aberta de Paulo e seu desejo de expor a estreiteza de espírito Judaísmo de seu tempo

A cidadania romana explica em grande parte a abertura de espírito de Paulo, a sua compreensão dos não-judeus e a sua lealdade ao Estado, uma lealdade que o inspirou a escrever palavras amáveis ​​e a convidar à oração pelos detentores da autoridade pública.
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A cidadania romana foi um trunfo importante no seu esforço para romper a estreiteza de espírito do Judaísmo do seu tempo e alcançar um Cristianismo universal.