Candidatos sabatistas ficam até 11 horas trancados para fazer o EnemRIO — Diz-se que o Enem é um teste de resistência. Os 69.396 inscritos como guardadores do sábado por motivos religiosos sabem bem disso. Por só poder começar o exame após o pôr do sol, os sabatistas precisam chegar às 13h ao local de prova, como os demais candidatos, e ficar confinados até as 19h, quando começa a aplicação para eles. Se usarem as 4h30m permitidas para resolver as 90 questões, ficam trancafiados quase 11 horas.
Isso talvez ajude a explicar a queda de 24% no número de sabatistas (a maioria judeus ortodoxos e adventistas) em relação a 2013, que teve o recorde de 90.274 de inscritos na modalidade. Um abaixo-assinado on-line pede a mudança da prova de sábado para segunda.
Sobretudo para judeus ortodoxos, com muitas restrições devido ao shabbat, fazer o exame de sábado é uma prova da fé. A direção do Colégio TTH Bar-Ilan, em Copacabana, pede há dois anos que os locais de prova de seus alunos sejam próximos de suas residências, pois eles não podem usar meios de transporte no dia. Apesar de grande parte da colônia judaica morar no bairro da Zona Sul do Rio, os candidatos foram alocados na Praça Onze.
A solução encontrada pela escola e pelos pais foi hospedar os alunos num hotel na Avenida Presidente Vargas desde sexta-feira para que possam fazer um trajeto menor a pé, de 20 minutos. Mas nem todos resistem. Daniel Youssef, de 18 anos, fez o Enem como treineiro em 2013 e teve que subir oito andares de escada, pois os judeus não podem usar elevador nem qualquer coisa que interfira em energia elétrica no shabbat. Este ano, concorrendo para Medicina, ele não se inscreveu como sabatista:
É muito complicado. Temos que acordar cedo para rezar, almoçamos às 11h30m, um empregado do hotel precisa abrir a porta do quarto, que é de cartão magnético, e um funcionário da escola nos ajuda a levar o material para a prova e os lanches, pois não podemos carregar coisas. Vamos jantar tarde, e, no dia seguinte, mais provas. É cansativo.
Segundo o Inep, a distribuição pelos locais de aplicação é feita segundo critérios de logística e de segurança que respeitem a isonomia entre os candidatos.
Alunas do 3º ano do Colégio Adventista de Jacarepaguá, Tatyana Machado, Sara Junker e Ágatha França (foto) farão o Enem no mesmo prédio dos judeus. Com menos restrições, os adventistas não enfrentam problema com deslocamento e usam o tempo de espera para rezar e cantar louvores.
Deu até para tirar um cochilo. Cantamos e fizemos o culto do pôr do sol adventista. Quando nossa fé é colocada à prova, é um testemunho que a gente dá — diz Tatyana, de 17 anos, que quer fazer Nutrição.
Ágatha lembra os casos de jovens que se inscreveram como sabatistas por engano.
— Em 2003 teve um garoto em pânico chorando. Outro começou a gritar e xingar dizendo que nem sabia o que era sabatista. E dois gêmeos marcaram a opção sem querer e queriam ir embora. Nós os convencemos a ficar.
Fonte:
http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/enem-e-vestibular/candidatos-sabatistas-ficam-ate-11-horas-trancados-para-fazer-enem-14439409?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo