Cuidado com o engasgo! - O Refluxo Gastroesofágico
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Dose dupla de mim hoje. Talvez tripla, se eu estiver com humor favorável daqui algumas horas.
E desta vez o assunto é mais restrito, mas é alarmante, pelo menos com as minhas pesquisas (férias servem pra isso, não é?) sobre o assunto.
Eu presenciei, na noite do dia 15 de julho, uma crise de Refluxo Gastroesofágico. Foi legal, com exceção de uma coisa: quem teve a crise foi minha mãe. Ela engasgou de uma forma inacreditável, a ponto de ficar uns bons 50 segundos sem respirar, o que é bastante, levando em consideração a situação de desespero, no qual as células musculares e nervosas consomem o dobro de oxigênio e energia. Eu acordei com um berro engasgado dela dizendo "Gu.. uu..!". Foi bem estranho. Se alguém aqui já acordou com um grito de alguém te chamando por questões de saúde, sabe o que é acordar pensando que está em uma descida de montanha-russa, ou mesmo pulando de pára-quedas. Quando a vi de pé, nos braços do meu pai, tão branca e com os lábios arrocheados a primeira coisa que pensei foi em dar uma joelhada no diafragma dela, só sabia que seja lá o que fosse que estivesse na laringe dela, tinha de sair. Então, um pouco mais consciente e menos agressivo, eu, com a ajuda de meu pai, pressionamos o abdômen dela e ela conseguiu tossir aquilo que a estava impedindo de respirar.
Era um fluido estranho, meio avermelhado, mas nitidamente não era sangue. Era puro muco gástrico com um pouco de quimo. O engraçado da cena era eu agaixado para ver o muco de perto, enquanto meus pais (minha mãe já estava um pouco melhor) olhavam pra mim pensando "que menino idiota...". Levantei e me lembrei de algo que tinha visto bastante no início deste ano. O tal do Refluxo Gastroesofágico. Tentei explicar para eles o que tinha acabado de acontecer, mas como sempre, ninguém quer saber da ciência da coisa em um pós-crise (o que eu acho um absurdo: se eu passo mal, eu passo mal duas vezes se eu não descobrir o que eu tenho). Mas o que aconteceu é o seguinte.
O Brasil está crescendo economicamente. Sua economia no cenário global é bem relevante. A classe média está ganhando mais e tendo melhores condições de vida. Os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres estão conseguindo ultrapassar esta condição (óbvio, que nisto tem juízo de valor regional, digno do centro-sul brasileiro, mas existem exceções, e muitas). Com isso, as pessoas passam a se alimentar melhor. Mas, quando digo "melhor", não digo em qualidade, mas sim em
quantidade.
Vêm crescendo os índices de sobrepeso no Brasil a ponto de sair em jornais textos como "O Brasil está ficando gordo", e tudo mais.
Com a elevação dos índices de sobrepeso na população, vêm junto as complicações clínicas referentes a isto, como a hipertensão e o diabetes. Os fabricantes de ENO, Mylanta Plus, dentre outros antiácidos ganham mais, assim como os vendedores de Herba Life, e outros meios de emagrecimento.
A acidez estomacal é algo comum e necessário. O estômago é um órgão do sistema digestório humano responsável por parte majoritária da digestão de proteínas, transformando-as em polipeptídeos menores ou até mesmo dipeptídeos, dependendo da trituração mecânica que o alimento sofreu na boca, o que aumenta sua superfície de contato e portanto aumenta a eficiência das enzimas digestivas. A principal destas enzimas, a
pepsina, é produzida por células da mucosa gástrica na forma de
pepsinogênio, que é simplesmente a pepsina em uma forma inativa.
O contato de um alimento com a boca do indivíduo desencadeia uma série de reações bioquímicas que levam a mucosa gástrica a produzir um hormônio, chamado
gastrina, que estimula as células parietais da mucosa a produzirem ácido clorídrico (ou muriático, para os mais chegados em química), que é um ácido forte e portanto permanece em sua forma ionizada, liberando íons hidroxônio (H3O+) diminuindo o pH do estômago, ou seja, aumenta a acidez do estômago.
Para quê tudo isso?
O pepsinogênio só é convertido em pepsina pela baixa do pH estomacal. Em outras palavras, as enzimas no estômago só digerem as proteínas do quimo (mistura de enzimas + alimentos íntegros + alimentos parcial ou totalmente digeridos) se o estômago estiver ácido.
"AH! Por isso que mascar chiclete constantemente dá gastrite e asia?". É por isso mesmo.
"E o que isso tudo tem a ver com o Refluxo Gastroesofágico?"
As pessoas naturalmente sentem sono no pós-refeição, justamente pela concentração do sangue nas regiões dos intestinos, diminuindo o fluxo no cérebro e consequentemente causando sonolência. Muitas vezes, depois das refeições, as pessoas dormem, e dormir de estômago cheio é bom, mas é perigoso.
A digestão de proteínas libera gases, que aumentam a pressão interna do estômago. Ao se deitar, ou mesmo por causas genéticas ou congênitas, a pressão que os gases e o quimo no estômago exercem no esfíncter gastroesofágico (válvula que separa o esôfago do estômago, impedindo a troca de material deste para aquele) fazem com que este ceda, levando este material ácido para o esôfago. A sensação é de dor peitoral, afinal, a mucosa esofágica não é especializada em reter antígenos ácidos por muito tempo. O material ácido sobe, devido à diferença de pressão, até chegar à epiglote (válvula que com auxílio do bulbo raquidiano, no cérebro, seleciona o que passará pelo esôfago - os alimentos e líquidos - e o que passará pela laringe - o ar para os pulmões). A epiglote, em contato com esse material ácido, fecha a entrada para a laringe, para impedir a entrada deste nos pulmões. Acontece, que ao ter a laringe fechada, o indivíduo não consegue respirar também.
É um tanto ridículo dizer isso, mas isso mata mais gente do que acidente de bicicleta. A negligência destes tipos de doenças acaba sendo trágica às vezes.
Então, a você, gordinho(a) de plantão, e aos outros também, tomem cuidado com o sono pós-refeição. Se obtiver algum desses sintomas, consulte um médico. Medicamentos como Omeprazol, ou mesmo antiácidos mais comuns são receitados com frequência, e auxiliam na minimização dos sintomas do refluxo.
Engasgar é coisa séria. Se estiver sozinho em casa, e acabar engasgando, seja por refluxo ou por qualquer outra besteira, mire seu diafragma na quina de sua mesa, e se jogue com toda a força. Mais vale uma costela quebrada do que morrer engasgado.
Para quem quiser se informar melhor, e por um médico já formado, e há muito tempo, recomendo este link aqui, do Dr. Drauzio Varella, dizendo um pouco mais sobre o assunto.
http://aopedavida.blogspot.com.br/2012/07/cuidado-com-o-engasgo-o-refluxo.html